A Proteste, associação de defesa do consumidor, divulgou os resultados de um teste de segurança alimentar – com base no regulamento técnico da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) – em amostras de oito marcas de café e farinha de trigo disponíveis no mercado. Entre as marcas testadas de café em pó – Caboclo, Pilão, Melitta e 3 Corações – e de farinha de trigo, Dona Benta, Renata, Sol e Rosa Branca – duas apresentaram quantidades de matérias estranhas, como fragmentos de insetos e roedores, superiores à permitida por lei.
Quantidade permitida
Conforme a legislação da Anvisa, a quantidade permitida de corpos estranhos nos alimentos analisados é de 60 fragmentos de insetos em 25 gramas de café em pó e 70 fragmentos em 50 gramas de farinha de trigo.
Os resultados mostraram que as amostras das marcas Caboclo e Pilão não indicaram a presença de matérias estranhas microscópicas ou microscópicas. Já a 3 Corações, apesar de estar dentro do limite permitido, apresentou 15 fragmentos na amostra de 25 gramas.
Em relação às marcas de farinha de trigo, a amostra da marca Renata indicou a presença de 33 fragmentos de inseto, já as das marcas Dona Benta e Rosa Branca apresentaram três e cinco fragmentos por 50 gramas, respectivamente.
Inseto morto
Por outro lado, o café Melitta apresentou uma quantidade superior à permitida pela vigilância sanitária. A amostra analisada revelou 13 fragmentos de 25 gramas e um inseto inteiro morto – que não está previsto na legislação. Segundo a Proteste, isso indica a possibilidade de falhas no processo de produção, manipulação ou armazenamento do produto.
Pelo de rato
Enquanto isso, na amostra da farinha Sol foram encontrados 25 fragmentos de insetos e um pelo de rato. Apesar de a quantidade de insetos estar dentro da lei determinada pela Anvisa, pelos de roedoresnão são permitidos nesses produtos. A agência autoriza um pelo de roedor para cada 100 gramas de produtos de tomate, por exemplo, mas esse regulamento não se aplica à farinha de trigo.
O que dizem as empresas
Em posicionamento enviado por e-mail a Melitta afirmou: “Em relação aos testes realizados pelo Instituto Proteste com um lote especifico do café em pó Tradicional embalagem Pouch 500g da Melitta do Brasil, a empresa afirma que desconhece os procedimentos utilizados para o teste dos produtos e reitera que prima pela qualidade, atende e respeita todas as regras da legislação aplicada pela ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).
A marca tem como prioridade entregar a excelência no produto final e, para isso, possui diversos processos de controle, além de certificados que comprovam o alto nível de qualidade em seus processos, como o Selo de Pureza ABIC (Associação Brasileira da Indústria do Café), o Certificado ISO 9001 de gestão de qualidade, o Programa de Qualidade do Café da ABIC e o Programa de Boas Práticas de Fabricação.
A empresa afirma ainda que realiza análises periódicas com laboratórios independentes certificados e que em nenhum momento foram encontradas as irregularidades divulgadas pelo Instituto Proteste. Por respeito e responsabilidade ao consumidor, a Melitta do Brasil vai recolher o lote em questão para refazer as análises.”
Também por e-mail, a J.Macêdo, fabricante da farinha de trigo Sol, disse: “A J.Macêdo, fabricante da farinha de trigo Sol, tem laudos de laboratório credenciado pela ANVISA (anexos) que atestam não ter sido identificada nenhuma inconformidade no mês de produção indicado pelo número parcial de lote divulgado pela Proteste. O mesmo vale para os meses anteriores e posteriores ao fato, no que se refere à presença de materiais estranhos. A J.Macêdo tem contraprovas dos lotes de produção e já os submeteu a exame em laboratório externo credenciado pela ANVISA, a fim de resguardar e dar a seus consumidores a garantia de seu rigor em relação aos seus procedimentos de fabricação.
A J.Macêdo afirma com base no número parcial de lote divulgado pela Proteste que nenhum lote produzido no mês em questão apresentou problemas, de acordo com os laudos citados acima. A Proteste também não comunicou a sua metodologia de amostragem, nem condições de armazenamento e coleta e nem se o laboratório que executou o teste é credenciado pela ANVISA.
Todas as unidades da J.Macêdo seguem rígidos controles de qualidade e rotinas de análise sistemática, com procedimentos de boas práticas de fabricação e controle de pragas minucioso. Se por algum motivo um produto se apresente fora da especificação, o lote inteiro do qual ele faz parte é descartado, conforme as regras da ANVISA e as melhores práticas de segurança alimentar.”
A Selmi, empresa responsável pela farinha de trigo Renata disse por e-mail: “A Selmi, empresa com mais de 130 anos de mercado e que produz há mais de 50 anos a farinha Renata, reforça que mantem seu foco na total rigidez do controle de qualidade em toda a sua cadeia produtiva. A companhia afirma que, de acordo com o teste realizado, o produto segue as especificações permitidas pela legislação brasileira.”
Por e-mail, a Associação Brasileira da Indústria (Abic) esclareceu que “os limites estabelecidos [pela Anvisa] são seguros do ponto de vista da saúde e baseados nos métodos de produção de alimentos no Brasil. Todo produto agrícola está sujeito à presença de insetos na lavoura, tais como frutas, verduras, grãos e com o café não é diferente. A mais conhecida é a “broca do café” (Hypothenemus hampei), que é um artrópode (inseto) típico da cultura do café e é classificada pela norma como “sujidade leve”. Sua existência não indica falta de boas práticas na indústria de café, lembrando que insetos são usados também em controle biológico no campo e podem seguir junto com a matéria-prima. A broca é um tipo de caruncho natural do grão e é um inseto não nocivo à saúde humana. A broca nasce na lavoura e se instala no grão enquanto ele está em crescimento na planta. Ela penetra dentro do grão de café na árvore ou após a colheita, o que torna impossível retirá-la de dentro dos grãos. Com o aumento da incidência de broca no cafezal, ocorre um aumento do número de grãos brocados nos lotes existentes no mercado.
A indústria de café tem adotado limites cada vez mais rígidos e menores para a presença de broca nos lotes de café que ela adquire. Isto tem sido um procedimento cada vez mais rigoroso por parte das indústrias e é uma exigência da ABIC aos seus associados em seus programas de qualidade e certificação. A ABIC tem mantido contatos frequentes com a Anvisa para interpretar o método de análise indicado pela norma para a avaliação do café. A conclusão é que o método de análise por quantificação de fragmentos é inadequado e não assegura confiabilidade aos resultados pois em testes realizados pela ABIC o mesmo produto pode apresentar resultados diferentes e com isto prejudicar a avaliação e as marcas testadas. O assunto ainda necessita de mais estudos e discussões.
Importante lembrar que o grão de café é torrado a 230ºC, moído e no preparo da bebida a água, junto com o pó de café passam por um coador e/ou filtro, eliminando qualquer possibilidade de algum fragmento estar presente na xícara do consumidor.(…) As indústrias associadas têm produtos certificados com o Selo de Pureza e Qualidade, e garantem a segurança alimentar. A presença da broca tem sido combatida e discutida exaustivamente com a Anvisa desde 2015, inclusive quanto à validação do método de análise e contagem dos fragmentos de broca. A Associação Brasileira da Indústria de Café – ABIC, reitera seu compromisso com a segurança alimentar e o respeito aos consumidores e vai ampliar seu monitoramento sobre os cafés no mercado, especialmente com relação a incidência da broca e com o espírito da autorregulamentação, que fez dos seus programas de certificação um exemplo em todo o mundo e no Brasil.”
As empresas responsáveis pelas demais marcas citadas não se manifestaram sobre o assunto até o fechamento dessa matéria.
Fonte: Revista Veja